Historia de Miranda
Miranda é uma cidade que conta com mais de 02 séculos de história, precisamente 247 e é uma terra de homens e mulheres heroicos, dotados de grande capacidade criadora, bem como de garra e coragem para, no seio do Pantanal Sul, formarem uma povoação onde hoje reinam a história e a magnitude de uma população altaneira, simples e repleta de riquezas.
Era uma vez um capitão chamado João Leme do Prado, que veio fazer a exploração dessa região, no ano de 1776, sob as ordens do Governador da Província (Estado) de Mato Grosso, Luiz de Albuquerque. João Leme do Prado faz o reconhecimento da região e encontra vestígios de Santiago de Xerez (antiga cidade de fundação dos espanhóis) nas proximidades da confluência dos rios Mondego (atual rio Miranda) e o Arariani (atual rio Aquidauana).
Em 1778, João Leme do Prado foi enviado por ordem do Governador da Província de Mato Grosso, Luiz de Albuquerque, novamente a região para fazer o reconhecimento do rio Mondego e iniciar a povoação e futuramente construir um presídio. Após realizar longas viagens no rio Mondego, João Leme do Prado e um grupo de pessoas desembarcaram na margem direita do rio (atualmente próximo à ponte do rio Miranda), escolhendo um local razoavelmente limpo para iniciar uma povoação e futuramente erguer um presídio. Estavam então lançados os alicerces da vila Mondego, no dia 16 de julho de 1778.
Passados alguns anos, precisamente em 1797, havendo notícias de que os espanhóis do Paraguai se apressavam para vir à região (atual Mato Grosso do Sul), o Governador da Província de Mato Grosso, então Caetano Pinto de Miranda Montenegro, mandou um grupo de pessoas sob a coordenação de Rodrigues do Prado, fundar um presídio próximo ao lugar onde existia a Vila Mondego (atual cidade de Miranda).
O povoado crescia vagarosamente, lutando, sobretudo, contra a falta de melhores meios de navegação pelo rio Mondego, o único meio de transporte. A manutenção do povoado era penosa, sobrevivendo apenas pelo ideal daqueles que lançaram suas fundações.
No ano de 1797, o povoado contava com mais de 40 casas de adobe (tijolo cru) e pau a pique, todas cobertas de telhas, já obedecendo a um traçado de rua, cuja principal foi denominada Rua Nossa Senhora do Carmo, atual “Rua do Carmo”, bastante extensa, chegando até a margem do rio. O povoado já contava com mais de 500 habitantes, entre os quais razoável número de índios pacificados.
Em 1834, Miranda atrai famílias oriundas do Norte da Província de Mato Grosso, entre elas estão os principais empreendedores da época: Alves Ribeiro, João Prado, João da Costa Lima, José Gomes Caetano Albuquerque e Salvador dos Santos. Por Lei Provincial, em 30 de maio de 1857, o povoado passou a categoria de Vila de Miranda, em homenagem ao ex-governador da Província de Mato Grosso Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
Caetano Pinto de Miranda Montenegro nasceu em Portugal entre 1758 e 1762 e morreu em 1827. Era formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Foi Governador da Província de Mato Grosso durante 06 anos (1796-1802). Deixando o governo de Mato Grosso, foi nomeado governador de Pernambuco. Ocupou ainda, a Regência de D. Pedro I, a pasta da Fazenda em 1822 e a Justiça que exerceu até 1823. Foi escolhido Senador por Mato Grosso em 1826, sendo bastante atuante na política do país.
Por Lei Provincial de 07 de outubro de 1871, a Vila de Miranda foi elevada à categoria de município de Miranda, pertencendo-lhe ainda os municípios de: Aquidauana, Bodoquena, Rio Brilhante, Dourados, Ponta Porã, Nioaque, Amambaí, Bela Vista, Porto Murtinho, Bonito, Paranaíba, Jardim, Guia Lopes da Laguna e Três Lagoas, sendo então o maior município de Mato Grosso em extensão territorial, no sul da Província (Estado).
Mas, há controvérsias! O outro lado da história...
Segundo o sociólogo João Wundervald (2019):
Quando Rodrigues do Prado e mais 62 homens, a mando do Governador da Província Caetano Pinto de Miranda e Montenegro desceram o Rio Mondego (atual rio Miranda, antes rio Guaxi, Mbotetei), com a missão de estabelecer o domínio da coroa portuguesa na fronteira com os castelhanos no dia 08 de outubro de 1797, não sabia que ficaria no esquecimento popular daqueles que o precediam. O sertanista Lemes do Prado, sob Ordens do Governador Luiz de Albuquerque fizera duas explorações nos anos de 1776 e 1783 pelo Rio Mondego para encontrar lugar apropriado para povoação, que resultou na fundação no morro das Pitas de Albuquerque (atual Corumbá) e posteriormente Ladário e Nada mais, além de um curto acampamento no Morro do Azeite.
Entre a partida de Rodrigues do Prado e a chegada as margens do Rio Mondego, onde se fundou a atual cidade, foram quase 30 dias entre viagem e limpeza do terreno. No dia 03 de novembro de 1797, foi lançada a estacada de fundação do presidio, que levou o nome de Presidio Nossa Senhora do Carmo de Miranda. Na mapoteca do Rio de Janeiro, se encontra uma planta do Presidio, datada de 1º de setembro de 1811, cuja a ficha traz uma nota explicativa em que se declara que rodrigues do Prado, despachado de Coimbra pelo tenente-Coronel Ricardo Franco para fundar a nova praça de armas, lançou lhe os fundamentos a 03 de novembro de 1797. Entre a estacada de lançamento e o término do presidio foram 03 anos de construção, sendo que no aniversário de 1º ano do início da construção, em 1798, uma forte inundação do rio destruiu-o, sendo reconstruído a um tiro de canhão do alicerce anterior. Um sábio Guaxi alertou Rodrigues do Prado para tal possibilidade, entretanto o Comandante não deu ouvidos.
“O meu coração está oprimido de dor por ver reduzido a quase nada o trabalho de mais de um ano, contudo este não deixa de ser um mal. Eu o conto no número de felicidades porque grande estrago primeiro causaria se estivessem os quartéis e outros edifícios feitos”¹.
Conforme Carta de Francisco Rodrigues do Prado, fundador de Miranda, podemos notar que a primeira construção do Presidio de Miranda, iniciada em 03 de novembro de 1797 fora destruído pela grande enchente no rio Mondego (atual Miranda) que assolou a região em 1798. Após isso, Rodrigues do Prado mudou a construção para “terreno mais elevado” (atual Piranhão) que ofereceria melhores condições ao presídio.
Vale ainda suspeitar acerca da Possibilidade de que no ano de 1799 - após a enchente no rio Mondego – São José de Montenegro² ser nome escolhido por Francisco Rodrigues do Prado para essa recém lançada estacada que chamamos hoje de Miranda. Conforme FERREIRA (1996, 95) “Sobre o Forte de S. José de Montenegro, a única referência directa que encontrei é a de A. Pereira da Costa, nos Anais Pernambucanos. Numa carta de 25 de Março de 1799 de Ricardo Franco para Caetano Pinto, o comandante dos Estabelecimentos do Paraguai informa o governador sobre a resolução tomada por Francisco Rodrigues do Prado no sentido de construir outro presídio em terreno mais elevado”. Sabemos que único forte que Rodrigues do Prado Construiu foi o de Miranda, permanecendo ali de 1797 até sua morte em 1804 e também que, após a grande enchente, tal presidio fora construído em terreno mais elevado.
Imaginemos: Cidade de Miranda quase se chamou Cidade de São José de Montenegro.
O presídio de Miranda e de Coimbra foram erigidos sob a égide de Nossa Senhora do Carmo, além de Corumbá em 1778. Todo um padroado à virgem do Carmo. A Pedra Fundamental da construção do Novo Forte de Coimbra (atual) ao lado da antiga estacada primitiva e o Presídio de Miranda foram ambas lançadas quando se comemorava 01 ano das solenidades da chegada de Caetano Pinto ao Comando da Província de Mato Grosso. Ou seja, ambas as Construções foram homenagens de Ricardo Franco ao Governador Caetano Pinto de Miranda e Montenegro.
Em Miranda, se comemora a data de aniversário da cidade no dia 16 de julho, homenageando a santa padroeira do Presidio de Miranda. Ademais, subtraindo a data da fundação em 1797 com a do ano corrente, perceberá a ação do tempo na memória, ou seja, a sua verdadeira idade.
¹ Carta do comandante do Presídio de Miranda Francisco Rodrigues do Prado ao comandante do Forte de Coimbra Ricardo Franco de Almeida Serra. Presídio de Miranda, fevereiro de 1799. Fundo: Presídio de Miranda, doc. 007 – Arquivo Público de Mato Grosso) Disponível em http://atom.apmt.mt.gov.br.
²O pai de Caetano Pinto de Miranda e Montenegro se Chamava José de Montenegro. (Mais exatamente Bernardo JOSE Pinto de Menezes de Sousa Melo e Almeida Correia de Miranda MONTENEGRO)
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. M de. Episódios da formação geográfica do Brasil: fixação das raias com o Uruguai e o Paraguai. 1951.
FERREIRA, Maria Delfina do Rio. Das Minas Gerais a Mato Grosso: gênese, evolução e consolidação de uma capitania. A ação de Caetano Pinto de Miranda Montenegro. 1996, 223f. Dissertação (Mestrado em História Moderna) – Faculdade de Letras, Universidade do Porto
MELLO (General Raul Silveira de). — Para além dos bandeirantes. Rio de Janeiro. Biblioteca do Exército. 1968. 310 pp.
MENDONÇA, Estevão de. Datas Matogrossenses. Volumes 1 e 2. Niterói: Escola Type. Salesiana, 1919.
ROSA, João Guimarães. Um certo Vaqueiro Mariano. Rio de Janeiro. Edições Hipocampo. 1952.